Tic-tac-tic-tac


O sol já não tem mais o mesmo brilho.
A chuva já não possui o mesmo frescor.
As cores, são apenas cores, já se foi sua mística.

O gordo de o magro são agora meros personagens.
Charlie Chaplin agora só se vê no alto da estante.

Saudades da época que não conhecia o amor.
Era bom quando a dor só chegava ao cair num tombo e que logo passava com um abraço de mãe.

Bom era não ter que se preocupar com que a roupa,
não dar ouvidos a opiniões.
Não ter opiniões.


O ruim foi ter que te ver crescer,
crescer,
e morrer.

Os finais de tarde são amargos como a cevada, mas o gosto da bala ainda me da agua na boca.

As horas se tornara meus inimigos, já me esqueci de quando ela girava em torno de mim.


Já não tenho mais medo do escuro, meus monstros favoritos já não moram dentro do meu guarda roupa.

Meus sonhos e aventuras tatuados nas roupas e cicatrizes hoje são apenas falsos pensamentos tolos.
Nunca serão tolos.

É amargurado ver o tempo passar e muita coisa mudar.
Lembranças do que vivi, perspectiva do que vou viver.
É triste não lembrar daquilo que um dia jurei jamais esquecer.

Sinto falta do cantarolar dos pássaros.
Hoje são só buzinas.

Aquele olhar verdadeiro,
aquele sorriso sincero.
Ah como eu queria,
ah como eu quero!

Hoje só tenho medo de uma coisa:

Tic-tac-tic-tac...


É perigoso



Não sei dizer, mas sinto!
Sinto sem sentir.
É, é perigoso.

É perigoso seu jeito de olhar, meu jeito de te observar.
É perigoso essa tua vóz que cala meus sentidos sem ao menos perceber.
É perigoso teu sorriso que despara meu coração em atitudes sem percepção.

O que vem de ti, é vicioso.
Teu vicio me cala, me desperta, me alerta.
Tua boca é uma explosão de endorfina, prazer e vicio.

Teu cheiro é mistério
Sua pele um pecado.

Impossível, não sofrer, não sorrir.
Impossível não querer te possuir, dentre beijos e abraços,
linhas e versos.

Querer te é inevitavel.
Nao te ter é nao viver, um castigo, tortura cravado na pele, que só faz doer.

Você é esse perigo que eu gostaria de poder viver!



(TANIMOTO, Elam)

Ele supera tudo?


"Prometo amar e respeitar, na saúde e na doença,
na riqueza e na pobreza,
até que a morte nos separe..."

Começa então um conto feliz. Ou não!

Até onde você estaria disposto ir pelo amor?Afinal, isso é tudo?
Aquele sorriso lindo, meigo, lento e eterno que um dia te encantou.Aquela simples frase, poema dito ou escrito, uma musica oferecida.
Aquela voz, rouca ou almofadada.
Olhos penetrantes ou simplesmente, aquele olhar.Aqueles costumes, manias, gestos únicos, sua marca carimbada.
Beijos longos e calorosos.
Lindos tempos.

Agimos muitas vezes por excitação e curiosidade de resultados.
O instinto.
Nos aventuramos e nos afogamos nesse mar de sentimentos.Nos prometemos ser fiéis sobre quais quer circunstancias.
Um dia isso pode mudar, e mudará!
Por mais que relutemos, a natureza humana consiste em mudança. Não sou eu quem digo isto mas sim a historia na sua totalidade.
Mudança.
Talvez se questione então, se o amor não existe, se não é o suficiente para ser feliz.
Será?
Talvez se questione se essa novela das 20horas que você está vivendo será eterno.
Ingênuo quem diz que o amor supera tudo. Ingênuo de mais.

E quando tudo mudar? O que fará?

Até onde estaria disposto a seguir adiante?

Com o tempo a perfeição se tornará IMperfeição.AQUELE olhar, será o olhar de todo dia.
Aquelas palavras lindas poderá estar somente em sua memoria agora.
A musica poderá estar gravada num vinil riscado.E cadê aquele sorriso mesmo?
Seus costumes se tornara manias, chatas e irritantes.
Os beijos serão frios e secos.

Nessas horas você aprendera novas palavras, como a Paciência, a palavra SEMPRE será o lema de seu dia a dia, ou talvez a palavra NUNCA MAIS.Uma palavra que você jamais prestou atenção que existia entre os dois estampara em seus corpos como as calorias que seus corpos absorvem: a Preguiça.
E quando tudo isso acontecer? Você usara o amor para mudar a situação?
IMPOSSÍVEL.

Amor é um viajante, amante de corpos jovens, saudáveis. Jamais fica em um corpo ou estação para sempre, porém ele sempre retorna.

Na mocidade tudo é aventura, perigoso e mais excitante.
Mas a maturidade é algo que não se pode retardar.Seria possível mudar algo que vem da própria natureza?Se mudar, já não será mais natural.
Mulheres "folclorizam" amores lieterarios; sonhadoras constantes e isso certamente a levará a uma decepção.

Amor não é perfeito.
Nenhum registro histórico da antiguidade jamais registrou a existência do que hoje chamamos de amor. Nem ao menos em desenho, a forma de expressão mais primitiva que existe.

Talvez o amor seja mesmo uma cultura literária, nome dado a diversas mudanças hormonais e cardíacos.
Sexo. não significa amor mas sim acima de tudo, uma necessidade natural.A natureza do homem prega a saciação do seus prazeres e desejos. O centro.
Haverá uma hora em que o gozo das noites terão mais importância do que as palavras de paixões ditas num final de tarde.
E você acabará com esse relacionamento?Não. porque você terá paciência.
Você terá um sentimento incondicional, estando o amor presente ou não.

Conformismo.
Você já estará tão conformado(da) que se deixará levar por isso só.
deixará o principal elemento acabar com o que um dia começou.
A preguiça.
Quem muito é preguiçoso,é conformado.
Conformismo e a preguiça é algo que deveria não fazer parte dessa filosofia humana.
Elas corroem o relacionamento como um acido que pouco a pouco destroi o aço, símbolo do eterno,duradouro, inabalável.

Egoísta é aquele que apenas quer ser feliz. Esse será infeliz.
Feliz será aquele que deseja(jar) fazer feliz.


Percebe o quanto o amor fez parte disso tudo? Ou de quase nada?!

O amor não é simplesmente amor.
O amor é muito mais que abraços calorosos, palavras lindas e sexo na praia deserta.
Amor é um conjunto de elementos, é uma obra literária solidificada em sentimentos atravez dos anos.
Paciência, desejo, cumplicidade, respeito e carinho,é esse o conjunto que forma o amor isso sim supera tudo, o amor por si só não.

E pra você o amor ainda supera tudo?



(TANIMOTO, Elam)

Saudades e nada mais.



Era inicio de dezembro
Hoje só me resta saudade
dos teus olhos que ainda me lembro,
de fascínio e pura bondade.

Não hora ou momento,
Jardim ou Manicómio, não importa o lugar
Onde existir homem e mulher
Do amor tu (eu) não pode (pude) escapar.

Teus olhos que me encantara,
tuas palavras que me guiavam,
foram capaz também arregalar,
uma ferida que tempos minhas mãos costuravam.

Dos vícios que rejeitei, nos teus lábios eu provei.
Dos teus doces beijos,o amargo da nicotina
é a saudades que sentirei,
De ter tido-a em minha rotina.

Contigo estive onde gostaria.
cada momento era um.
Tu foi capaz de explorar minha alegria,
mas erroneamente me reduziu a qualquer um.

Olhos de lince que um dia eu vi.
Morena linda a caminhar.
Olhar lindo que não esqueci
Mas à tempos em ti deixei de pensar.

O espelho que um dia fui pra ti,
Sem querer o fiz quebrar.
Sei que nada justificasse,
daquela maneira me deixar.

Das lágrimas lisas que ali derramei
Hoje pedras se formaram.
Meu caminho dia-a-dia seguirei,
sem que os rastros me persigam.

Eu que não entendo de prosa
Hoje a ti declamo.
Apenas pra dizer que foi bom
e não pra dizer te amo.

Talvez nunca você entenda
tudo que um dia te dei.
Espero que não se arrependa,
Pois com teus olhos jamais sonharei.



(TANIMOTO, Elam)

Que tal?


Que tal você parar uns minutos para ler o que digo?

Para o casal

Que tal acordar cedo e chama-la para ouvirem juntos
o cantarolar dos pássaros seguido de um delicioso café?

Que tal dizer a cada momento que a ama?
Nem que seja através de um simples olhar.

Que tal ser espontâneo?
Roubar o baton dela e escrever o quanto ela é linda e sexy
Diante de seus olhos.

Que tal um fim de semana sem destino?
Mochila nas costas, o amor ao lado, ou uma simples pedala pelo parque.
Tenha certeza que valerá muito a pena!


Que tal começar prestar atenção ao que esta a sua frente
E não à aquilo que você quer enxergar?
As vezes você é mal da vista e nem sabe.

Que tal viver e trabalhar e não trabalhar pra viver?
Acredite, o máximo que conseguirá é uma conta legal no banco
e uma divida grande no hospital.

Que tal num momento a sós cantar para ela?
Nem que seja desafinado, se não encantar, ao menos terão mais um motivo em suas vidas que sorrirão juntos.
Só não seja ridículo e escolha uma musica decente, ok?
Que eu conheça Rebolation não conquista mulher nenhuma.

Que tal deixar um pouco a seriedade de lado?
Rir de você mesmo.
Opostos se atraem, se você não for humorado ela será.
Caso contrario, ate imagino que casal lindo será.

Que tal algumas vezes tentar cozinhar juntos?
Nem que você não saiba.
As vezes o prato principal pode não sair muito bom, mas a sobremesa meu caro, hummmmmm.

Que tal largar a mão desse teclado e de sua carteira e escrever uma carta a punhos?
A coisas que o dinheiro não compra e isso se chama:
Coração de uma mulher.


Que tal deixar de ser machista e ser mais delicado as vezes?
Diga o que sente, e discuta relação.
Só por favor, não queira experimentar as langeries dela.
Isso é outra coisa.

Que tal aprender a dar mais atenção a ela e não apenas a quantidade de cerveja que resta no seu copo?
Mulher odeia não receber atenção, e hoje as coisas andam avançadas. Pra esses casos elas descobriram um tal de Ricardão.

Que tal ser um pouquinho só atrevido?
Cumprimente aquela que olha pra você vindo em sua direção na rua, ou mesmo aquela gracinha que trabalha no caixa do supermercado.
O máximo que você poderá ouvir dela é “obrigado e volte sempre”.

Que tal não se preocupar muito com o amanha e procurar viver mais o momento agora?
O amanha é incerto e agora é único.
Não espere ficar velho pra perceber o quanto você desperdiçou.

Que tal cuidar mais da sua vida e deixar os demais em paz?
Você não ganharam nada com isso.

Que tal aprender a ouvir um pouco?
As vezes são coisas mais construtivas do que as besteiras que você vive falando.

Que tal ser menos mala?
Se você é playboyzinho que faz academia, problema é seu. Ninguém quer ou precisa saber quanto que você faz de supino e sim o conteúdo que você tem na massa encefálica!

Que tal não achar que carro é tudo para se ter uma mulher?
O carro pode ir ate a Roma, mas ao coração dela não vai ser com litros de gasolina que você conseguira chegar!

Que tal não pensar que o futebol de quarta é indispensável?
Não deixe de jogar!
Porém, enquanto você corre atrás de uma bola e se esfrega entre homens lá fora ou mesmo na sua casa tem coisa muito mais interessante te esperando.

Que tal parar de dizer que esta gorda?
Não fale. Se cuide!

Que tal largar mão de ser fútil?
Esse é o típico de mulher que casara por interesse e conseguira apenas um “interessado”, se é que me entende.

Que tal saber se expressar também?
Homem de hoje em dia não é adepto a só “caçar” não, as vezes ele adora ser a caça.
Afinal perder uma oportunidade por feminismo é uó hein!

Que tal ser menos feminista?
Essa historia de que mulher não broxa e etc. É pra encher lingüiça, é coisa de mulher ignorante.
As mulheres não vivem sem o homem nem os homens sem as mulheres e pronto acabou. Se ainda acha que não é assim viva sozinha!

Que tão não maltratar o coração de um homem?
Se você já foi maltratada, sinto muito. Mas não acredite que estará sendo uma mulher grandiosa ou “mais mulher” por fazer um homem sofrer.

Que tal aprender a dar opinião?
Aceitar as coisas e fingir satisfação só vai te levar a insatisfação e a uma futura separação.
Opinião se da e se recebe.

Que tal deixar de usar a TPM como desculpas para muitas coisas?
Tpm não é motivo pra você quebrar um prato nele e dizer pra ele entender.
O corpo é seu! Saiba se controlar. Caso contrário poderá se arrepender depois.


Que tal você tentar seguir estes conselhos hein?
Ou não siga. Não é obrigado mesmo.
Como diz o velho deitado: se conselho fosse bom não se dava.

Bicho papão.


Sabe, vou te contar uma história nada legal,quer ouvir? Acomode-se.

Uma vez vagando por entre corpos, pensamentos, edifícios, árvores e flores, avistei uma menina de cabeça baixa, de olhos profundos sem muita expressão sentada num balanço em um parquinho com um ursinho de pelúcia branco de laço azul, enquanto isso seus amigos em volta chamavam-na para ir brincar juntos à eles, porém ela se negava.
O que poderia ter uma menina de cinco anos de tão triste? É essa a fase das fantasias, brincadeiras intermináveis e de aprendizado. Mas não era o que ela aparentava ter.
Resolvi passar um tempo com ela, pelo menos até o sol nascer do dia seguinte para ver se descobria algo. No entardecer acompanhei a garotinha que voltava sozinha para sua casa, agarrada ao seu ursinho.
Em casa ninguém parecia notar a mudança de sua filha e todos agiam conforme a rotina.
Quando chegava hora de dormir, ela, arrastando seu ursinho pelo chão pedia e pedia para que pudesse dormir com sua mãe.
Quando a mãe perguntava o porquê ela respondia que tinha medo do “bicho papão”.
A resposta da mãe e do pai eram óbvias e sempre as mesmas:

- Não existe bicho papão. Vai-te deitar menina. (e risos)

Seu pai dizia rindo:

- Como essas crianças imaginam coisas. Bobinha!

De início achei bonitinho esse medo que as crianças têm de bicho papão ou qualquer coisa que faça algum barulho, como por exemplo, eu. Até achei graça, confesso.
Seu quarto era a coisa mais meiga e delicada. As cores azuis e rosa contrastavam com o branco. Era o mundo dela.
A noite ia se passando e a menina sequer conseguia fechar os olhos que inquietamente vasculhava por entre todo o quarto.
Quando por fim veio a madrugada ela consegui cair no sono. Ela agarrava firmemente seu ursinho de pelúcia branco de laço azul.
Deliciava-me vendo seu rosto angelical, num sono profundo. Parecia ate que estava tendo um lindo sonho. Sua respiração era bem tranquila.
De repente em meio ao escuro, silenciosamente surge uma sobra.
A graça estava por terminar.
Não me assustei, pois ninguém consegue me enxergar, apenas me sentir. Porém eu não sou algo que pode oferecer risco a ele, então apenas observei.
A sombra se movia lenta e silenciosa, na direção da pequena garota.
Assustei-me, mas foi só então que percebi qual era o “bicho papão” de que a pequena tanto tinha medo.
Esse bicho era conhecido como “papai”
Ele se deitava ao lado da pequena, despia as partes intimas e começava alisar a pequena garota. Ele ia baixando lentamente o pijaminha de ursinho dela, carregava suas mãos pesadas por entre seu pequeno corpo. Beijava lentamente sua lisa pele com seus lábios ásperos e árduos. Quando a pequena acordava lá estava ele com sua mão nas partes intimas e friccionando seu membro por entre as pernas dela, deixando rastros de sêmem.
Era abominável assistir aquilo.
No quarto lágrimas molhavam o travesseiro e gemidos ecoavam pelo ar.
Eu não podia fazer nada, a única coisa que era capaz era de desejar a morte à aquele desgraçado. Meu ser ficou em fúria e acabei por fazer as janelas baterem com força. O homem a principio ficou quieto, mas logo continuou a atrocidade.
A mãe assustada acordou e percebeu a ausência do marido, se levantou e saiu a sua procura passo a passo em silencio, temendo que estivesse acontecendo algo, e, de fato estava.
Ela andou pela cozinha, pela sala, área de serviços e nada, foi quando resolveu ir até o quarto de sua filha. Chegando perto ouviu gemidos e isso deixou-a intrigada.
Ela observou o que se passava pela fresta da porta e vendo aquilo, numa mistura de raiva, indignação, tristeza e todo sentimento que você caro leitor também pode estar sentido.
No entanto ao invés de entrar e impedir, ela saiu dali aos choros, abafando para que não ouvissem ela. Ela foi até seu quarto.
Eu não suportava mais tudo aquilo, e vendo que nem a própria mãe foi capaz de impedir e salvar sua filha me bateu um desespero e indignação extrema.
Como poderia a mãe deixar aquilo acontecer com sua filha, chorar e sair a correr apenas? Em que mundo eles vivem?Eu me perguntava.
Surge então ele. Ele que é sempre visto como vilão, alguém que não o via há algum tempo, alguém cujo seu livro traz inúmero nomes e histórias. Era a morte em “pessoa” ali ao meu lado.
A morte então me disse:

- Pra quem não gostava do meu trabalho, já me solicitou até de mais hein.

E eu lhe respondi:

- O que veio fazer aqui dona morte?

Ela apenas me disse:

- Atender seu desejo meu caro amigo!

Diante da situação eu não consegui entender muito bem, mas sabia que algo ali fazia sentido.
Ouvi então passos apressados no corredor e luzes sendo acesas.
O pai percebeu e entrou em desespero. A filha já nem tinha mais lágrimas para derramar.
A mulher abriu a porta furiosamente e acendeu a luz. A sombra tomou cor.
O pai ficou disperso com a claridade e perguntou a mulher:

Mulher, o que você esta...

Ela o interrompeu num simples gesto de erguer o pulso e colocar a mostra a brilhante imagem de uma pistola automática que ficava guardado no aposento do próprio.
A mãe pedia aos gritos que a filha saísse do quarto.
Nisso a morte olhou para mim e perguntou:

- Conseguiu entender amigo?

Quando a menina por fim saiu aos choros a mãe fechou a porta.
O marido ia tentar a se explicar quando a mulher deu seu primeiro tiro aos prantos e xingos de tudo aquilo que você poderia e tem em mente.
Ela fez vários disparos. Só se via sangue para todo lado. Na parede ficaram tatuadas da cor viva do vermelho ainda quente.
A mulher vendo que ainda-lhe restava um fio de respiração, terminou de descarregar a arma sobre seus orgãos genitais. Não restou nada pra contar historia.
Nem ela mesmo conseguiu acreditar do que fora capaz de fazer. A mulher desabou em si.
A morte depois de suas anotações em seu livro disse-me:

- Bom hoje creio que ninguém está pra papo, então estou de saída. Quando precisar me chame, terei o prazer em atender!

Eu não sabia bem como dizer mas agradeci:

- Obrigado.

A morte em saída atravessou a porta dizendo sua famosa frase:

- Ai ai, humanos, humanos... tolos!

A mãe foi correndo em direção a menina e deu o abraço mais apertado que já tivera dado. As lágrimas se misturavam, ali agora só havia beijos e pedidos de desculpas.
Desculpas estas que não adiantarão, pois ela jamais esquecerá tudo que o passou. Porem o que aquela criança entendia de rancor? Nada.
Ela foi apenas capaz de dizer:

- Eu te falei mamãe que tinha bicho papão, eu tinha muito medo mas você nunca acreditou.

A mãe disse ainda apertando a filha entre seus braços:

- Perdão minha filha, jamais deixarei alguém fazer algum mau a você minha princesa!Você é tudo que eu tenho querida!

O vizinho com todo o barulho chamou a polícia e esta já estava na porta de casa. Pela janela entravam o barulho das sirense e o giroflex pintava de azul e vermelho a cor da noite.
Passado uma semana aconteceu o enterro daquele que chamavam de pai e marido. Nem os próprios familiares tiverem a coragem de aparecer. Os parentes e amigos da vitima não quiseram aparecer no enterro de alguém repugnante que não merecia nem mesmo as únicas presenças de sua filha e mulher.
Havia um padre, o coveiro, a pequena e a mãe.
Ao fundo a musica “Ave Maria”, enquanto o padre fazia suas orações.
No momento de tampar a cova onde o caixão já estava depositado, a menina jogou seu pijaminha sobre o caixão, afim de esquecer tudo que já sofre, afim de poder novamente encontrar um motivo pra viver e sorrir ao lado da mãe. O que infelizmente não aconteceria.
Após alguns meses a mãe foi julgada pelo assassinato e foi condenada a 7 anos de prisão.
Foi mais uma tristeza para a menina. Primeiro o abuso do pai e a perda. Agora a separação da mãe.
A mãe, conhecendo o país em que vivia e suas lei, e, com um ar de conformada mas de dever cumprido, aceitou o a sentença.
Na despedida de sua mamãe a garota entregou seu único amigo e companheiro nos tempos de tristeza: seu ursinho de pelúcia. E disse:

- Toma mamãe, é pra você nunca dormir sozinha, cuida bem dele, ta?!

A mãe ao choro disse:

- Te amo minha filha! Eu vou cuidar bem dele sim e prometo de dar um bem grande quando a mamãe sair! Te amo!

E assim a mãe foi pra um lado e a menina com os tios para o outro.

Passado certo tempo numa certa noite, a menina antes de deitar falou à sua tia:

- Tia, posso dormir com você? Tem bicho papão no quarto.

Eles apenas riram e mandaram-na ir se deitar.

Não se preocupe. Agora esse bicho papão sou eu, que sempre mecho a janela quando faço visitas à ela enquanto dorme.


(TANIMOTO, Elam)



Textos com a presença da morte:

Sida.
Um pequeno Papo.

O lugar dos Sonhos.


Era uma manhã fresca.
O filho se aprontava para ir para escola, seu pai se aprontava para o trabalho na roça e a mãe terminava seu café feito no fogão de lenha.
O cheiro do café fresco invadia todo perímetro da casa, atraindo os para a pequena cozinha.
A casa era simples, nada de luxo, apenas o necessário.
Não havia vizinhos por perto.
Família de fala e género humilde, porem com a mesa sempre farta.
O menino com frequência dizia: “inda bem que não farta nada né mãe?!”.
Isso sempre soava como uma pequena piada e era motivo pra risos discretos.
O filho entrou em seu ônibus escolar e seguiu para seu destino.
A mãe tratou dos afazeres domésticos enquanto ouvia seu marido agradecer a Deus por mais um inicio de dia lindo e produtivo que estaria por começar.
Assim que abriu a porta, se esticou, abriu os braços e respirou bem fundo, inalando o perfume da natureza.
Recebeu o beijo matinal de sua mulher e se dirigiu ao pequeno trator.
O verde compunha um tapete magnífico pelo caminho.
O sol dava seu primeiro parecer quando o homem parava e vislumbrava como sempre o milagre da terra materializado numa vasta e generosa plantação de diversos tipos de legumes, frutas e verduras.
Ele agradecia fervorosamente a Deus enquanto colhia, regava, e as vezes ate petiscava algum fruto fresco.
Quando cansado sentava sobre uma cesta vazia, abria seu galão de água fresca se deliciava como se tomasse um delicioso vinho português de safra 1976.
Já no meio da tarde as nuvens deram descanso ao sol e fez-se chover delicadamente.
Era a natureza cuidando da natureza. Esse é o único e exclusivo dever a ser cumprido, seja eu o vento ou chuva, o calor do sol ou o gelo da neve.
Fim de tarde se anuncia e o homem volta a sua casa.
Pelo caminho amigos pescavam nos lagos em busca de um jantar mais caprichado.
Era uma calmaria morar lá. Problema era o que não se via.
A natureza fazia sua parte e o homem a dele.
Mesmo distante de casa já era possível sentir o cheiro de janta no ar, perfumando a atmosfera.
Arroz, feijão, legumes e verduras da própria colheita,carne de panela, pururuca, enfim, se eu fosse humano certamente estaria já com água na boca.
Mais uma fez a família ali se reunia, feliz, se deliciando e compartilhando os fatos do dia.
Foi quando aconteceu algo inesperado.
Tudo começou a tremer.
O chão se abriu e a mesa e tudo sobre ela foi engolida pela terra.
Todo colorido sumiu.
A terra com seu rosto fantasmagórico e horripilante ria da família ali amedrontada.
Todos caiam num buraco sem fim.
Foi quando o homem acordou.
Era tudo um sonho.
Andando pelo corredor em direção a cozinha ele ouvia sua mulher a queixar-se da falta de café. Enquanto o filho dormia sem preocupação nenhuma com a escola.
A mulher se despediu de seu marido como de costume com um beijo.
O marido suspirava de preocupação.
Ele pegava sua vaquinha, sua cabra e seu cavalo e seguia em busca de seu desejo.
A sua volta só o vermelho da terra predominava.
Era um deserto.
A terra era absurdamente seca. Não há como descrever.
Essa devia ser a textura da pele do diabo.
O verde não existia.
Ele rezava a Deus, rezava e rezava, mas seu pedido era realmente um milagre que tão cedo não iria se confirmar.
O menino não estudava, se quer sabia ler porque não havia escola por la.
A mãe e o pai não tinham motivos para sorrirem nas manhãs sentados à mesa como no sonho.
Na verdade ali “fartava” tudo!
Onde viviam, ou, melhor dizer sobreviviam, é um lugar distante, esquecido por Deus, São Pedro e tudo mais que fosse santo.
Lembrando de seu sonho escorriam lágrimas.
Era a única água a cair sobre a terra.
Era a única água que o solo do Sertão recebia.
O sertão é o lugar dos sonhos, onde o sonho é o lar mais feliz e digno de se viver.
É apenas lá onde encontravam a fartura, o verde, a água, a felicidade.
Sertão, ah sertão.
Oque fizeste para merecer isto?

A carta.


Havia muitos papéis em minha volta.
Tudo aquilo que os humanos consomem e acabam por transformar em lixo.
Em uma mesa a céu aberto num parque da cidade, um rapaz escrevia, escrevia, escrevia...
Já estava ali sentado há mais de duas horas, pensativo e despretensioso.
Cheguei mais perto e em um de meus movimentos bruscos sua folha juntou-se as inúmeras outras, fazendo o rapaz correr atrás.
Sua folha pousou numa poça de água e ali então ele deixou e foi embora dando uma ultima olhada ao papel molhado.

Aquela carta me chamou atenção. Não por ser uma carta, mas por ver a dedicação do rapaz em escrever, fixado e pensativo.
Imaginei que teria algo interessante.
Ela era intitulada:

“Sabe quando...”

“... você me deu a vida?
Eu não sabia o quanto ia ser difícil, mas também muito prazeroso.

...eu me lambuzei de catchup na feira comendo pastel?
Fiquei sujo sim, mas não sabe o quanto me deliciei!

...quando você veio me visitar quando eu ainda era pequeno?
Você era minha estranha-conhecida.

...sabe quando você me deixou longe de tudo com ela?
Eu sofri, o quanto já não lembro, já se passou tanto tempo.

... você lutou por mim e me trouxe pra perto?
Eu disse que não gostava de você. Eu era pequeno e não entendia. Hoje entendo e digo que na verdade eu amava.

...eu entrei pela primeira vez naquele avião?
Eu me sentia alguém importante, achei a coisa mais incrível do mundo.

...pisei nessa terra fria de telhados brancos?
Perguntava-me em que planeta eu estava.

...recebi seu abraço apertado e senti seu cheiro?
Eu estava começando a aprender o que era ter-te como mãe.

...eu aprontava e te deixava nervosa, de cabelo em pé?
Doía apanhar, mas eu era só criança, entende?

...você duvidou de mim?
Hoje eu sei o que você queria dizer.

...quando voltei pro calor desse lugar?
Senti medo, muito medo.

...duvidou de minha capacidade?
Hoje te mostrei que você estava errada e você provou disso.

...sinto o cheiro da infância?
Tenho vontade de viver tudo de novo e também consertar alguns erros cometidos.

...você foi embora?
Eu chorei muito, muito, apesar de tudo.

...te vi tocando piano?
Você estava linda, a única coisa que conseguia enxergar, a única coisa que me importava e me importou durante vários anos.

...estávamos no parque?
Eu lembro até hoje como te chamei.

...eu dizia te amo?
Era de verdade. Eu poderia não entender seu significado real, mas dentro de mim era verdadeiro. Você não acreditou...

...eu fiz tanta coisa fingindo ser pra Deus?
Era na verdade tudo por você. Se tentar buscar a felicidade é/foi pecado, eu vou pro inferno arrependido, porque hoje, vejo que você não mereceu as palavras ditas.

...eu me decepcionava com alguém e com os sentimentos?
Eu chorava deitado na cama durante a noite, sem ninguém saber.

...eu prometia não ser mais bobo de ninguém e não acreditar muito ao que diziam?
Eu tornava sempre a cometer o mesmo erro e ainda cometo. Esse é o bem e mal.

...me questionava sobre bem e mal?
Sempre tive em mente que é tudo parte de um equilíbrio: sem o mal o bem não existe e vice e versa, assim como tudo aquilo que há contraste. Óbvio não?!

...tu me perguntou que horas era?
Eu te achei um cabeçudo ridículo. Hoje és meu melhor amigo.

...tomei meu primeiro porre?
Nunca pensei que acordar no outro dia seria tão ruim, mas eu ri muito, estava com a companhia certa, valeu a pena!

...eu brigava com você por não cumprir suas obrigações?
É porque não imagina o quanto precisei de você!

...sabe quando cruzei o estado pra te conhecer?
Mal sabia eu, nem você o tamanho do carinho e amor incondicional que estaria por surgir.

...comecei a conviver mais com as pessoas?
Eu passei a compreender o quanto nós representamos perante a vida: nada.
Não somos nada daquilo que comemos ou compramos e sim aquilo que sentimos. Somos seres vulneráveis a própria espécie.
Infelizmente muitos se orgulham.

...quando agente busca a felicidade?
As vezes penso que encontrei em você mulher, que lê isto.

Sabe o que é ser feliz?
É rir, chorar, pensar, sentir tudo aquilo que te faz e fez bem.
É rir e chorar com amigos, sentir saudades de alguém, gritar de alegria.
É sempre mudar, mudar as cores, sabores.
Mudar os caminhos, fazer diferentes escolhas sem medo.
Amar!

Sabe o que é não ser feliz?
Guardar magoa, rancor, sofrimento e tristeza dentro do peito.
É não saber perdoar, ser perdoa, não saber ouvir e nem falar.
É ficar esperando que a vida faça por você, sendo que você é quem tem que fazer pela vida, pela sua vida.

...eu digo sobre ser feliz e não ser feliz?
É porque eu sei ser um pouco dos dois, lembra do bem e mal?

...eu pensei em escrever isto?
Eu pensei em falar um pouco sobre tudo que já...”


Obviamente a carta estava inacabada.
Não sabia dizer o que eu senti depois de lê-la.
Era algo tão verdadeiro como eu gostaria que todos fossem.
Palavras simples o compunham, mas sei que havia grande valor e significado, pelo simples fato de alguém querer transmiti-la.

Descobri onde o rapaz morava. Não era muito distante da praça.
Estava sentado em sua cama ouvindo musica, com sua janela aberta.
Então sequei a folha e o fiz entrar em seu quarto caindo ao chão.
A folha continuava amassada, porem com um recado deixado por mim.

“Por favor termine...” .


(TANIMOTO, Elam)

Mendigo de vida. O telefone e uma espera


Eu esperava tanto quanto ele que o telefone tocasse.

É uma espera pelo qual você nunca passará, ou sim, terá esse azar.

Imagine um fumante compulsivo que está a um dia sem fumar.

Um dia é o bastante para que entre num estado de desespero e agonia.

Era o clima que pairava no ambiente.

08:45 am.
Telefone, toca, toca, toca, toca... TOCA!
Nada!

Suas unhas eram curtas de tanto roer de ansiedade.

Seus olhos demoravam a piscar.

Da janela ele observava um por um dos transeuntes que caminhavam sem nenhuma

preocupação comparada a dele.

Era como se ele mendigasse a cada um que ele visse. Mendigando algo que não se vê por ai todo

dia no onibus, metro, ou ruas e rodoviárias.

A cada minuto ele virava subitamente para o telefone.

11:27 am.

Telefone, toca, toca, toca, toca... TOCA!

Nada!

No momento até então a imagem do Sagrado Coração de Cristo era sua única salvação.

Parecia que Cristo segurava algo que lhe desejava muito, mas não.

Não?

15:14 pm.

Telefone, toca, toca, toca, toca... TOCA!

Nada!

Em seu peito havia um enorme vazio, vital. As batidas de seu peito era como se fosse artificial.

Talvez fosse causado pela mulher que perderá há alguns anos.

Sim , este vazio era visível nos portas retratos.

Nas fotos havia ele, sua mulher e sua linda filha.

Onde estava sua filha?

00:43 am.

Telefone, toca, toca, toca, toca... TOCA! E mais uma vez nada!

Meus sopros que entravam pelo vão da porta e pela janela atingia-o como um murro.

Era como se fosse o ultimo a cada vez.

Esse murro doía, não era uma dor física, era uma dor espiritual.

Eu espanquei ele.

Ao mesmo tempo que minha intenção era fazê-lo sorrir, eu fazia o chorar.

Ao mesmo tempo que o abraçava, era como se ele ficasse mais distante, um passo de cada vez.

Nunca pensei tanto na importância do tempo nesse dia, talvez tivesse ou haverá outra ocasião

que me fará perceber o quanto cada minuto é precioso para muitos, mas que só alguns

conseguem enxergar.

Ele chegava delirar com números, ponteiros e toques de telefone.

Era atormentado a cada segundo que o ponteiro percorria, ou melhor dizer, corria.

Eu percebi que a situação não se tratava de sua filha.

03:13 am.

O telefone toca finalmente.

Os olhos que não pregavam a dias se volta para o aparelho.

Ele corre como que num impulso natural pela curiosidade da surpresa que lhe aguarda.

Quando finalmente ele atendeu disse:

- Graças a Deus...

A linha havia ficado muda.

Ele desabou.

O telefonema mais aguardado de sua vida, o toque que lhe soara como uma sinfonia, ali acabou.

Tantos dias e horas a espera, foi-se com o vento.

Foi quando ouviu-se passos apressados e vozes vindas do corredor e lhe abrem a porta.

Era como um anjo que viera salvar sua vida, literalmente.

- Encontramos um doador, um coração compatível, vamos te preparar para cirurgia!

Disse o Doutor junto aos enfermeiros.

"Cerca de 50mil pessoas por ano no Brasil esperam por algum transplante, que nem sempre é garantido. Esses são realmente os mendigos de vida! Essa é uma realidade que não vemos mas existe. Não espere morrer para fazer a diferença, nem espere estar à beira da morte para dar valor a vida e ao tempo que o compõe!"


(Tanimoto, Elam)

Uma mulher. Um convite. Meu doce veneno!


Primeiro dia de Outono.

Um fim de tarde.

Uma estação tão romântica quanto a primavera.

Naquela tarde não foi o esplendor do por do sol que me chamou atenção,

nem tampouco uma historia de um ser emocionante e sim

aquela mulher que caminhava em direção a sua casa.

Uma mulher que aparentemente era como muitas.

Aparentemente!

Raramente um ser me chamava tanto atenção quanto ela, naquele final de tarde.

Assim como o sol, a lua e as estrelas tem seu brilho próprio, ela também o possuía.

Seu brilho vinha acompanhado de um lindo sorriso, meigo e discreto, porém contagiante!

Ela era dona de uma beleza exótica.

Intrigante!

Seus olhos castanhos eram profundos e mesmo tempo sereno.


A noite anuncia sua chegada.

O sol se põe e da espaço ao brilho das estrelas e

do luar.

O brilho da lua naquela noite era tão intenso que eu me lembro até hoje, era como se ela

iluminasse o mundo todo, fazendo-me pensar que a invenção da luz elétrica tinha sido inútil.

Tarde da noite, acompanhando de longe a linda mulher, as luzes se apagam e recebo um convite:

Uma janela aberta.

Hesito em entrar, mas a tentação era tamanha.

Tentei me conter, foi inútil.

Passado algumas horas entrei por entre a janela, sacudindo os galhos da árvore fazendo as folhas

cantarem em minha presença, como se fosse uma noite quente de típico de verão.

Ah, la estava ela.

Deitada em sua cama, apenas coberta por um lençol.

A cada aproximação minha as cortinas dançavam no ar.

Tocando-a levemente senti a delicadeza de seu corpo.

Sua pele era clara e lisa, uma delicia.

Seu rosto, ainda que dormindo profundamente carregava um leve sorriso.

Estaria ela tendo um lindo sonho?

Não sei, porém era como se eu estivesse sonhando!

Ao lado da cama sobre uma mesinha, seu óculos de detalhes vermelhos

Cabelos esparramados sobre o travesseiro, não era tão longos, nem tão curtos.

Não havia perfume químico, apenas a doçura de seu cheiro natural.

Ah meu Deus, como era bom!

Entrei num estado de frenesi, passeava sobre seu corpo, desde os pés,coxas, acariciava de leve

suas costas e terminando em sua nuca.

Era como se eu tivesse sido consumido por um veneno doce, gostoso. Era como se eu tivesse me

entregado a ele.

Um veneno não é aquilo que se espera, é o que te consome sem que você perceba ou espere.

Era excitante, viciante.

Seu corpo possuía curvas delicadas e majestosamente puras.

Senti sua respiração como quem sente um coração batendo em seu peito.

Em um sopro forte ela abriu os olhos meio assustada, então me afastei e passei a observar da

janela.

Sempre balançando os galhos e mexendo as cortinas.

Ela me procurava, ou ao menos tentava!

Ela não sabe o que eu sou.

Ela não me entende ou compreende. Alias ninguém!

Me agoniava pensar nisso!

Oh, meu Deus, porque não me criastes homem?

Porque?

Desejei que aquela noite jamais tivesse fim.

Que ela jamais perdesse esse encanto e que um dia eu pudesse encontra-la novamente.

Eu poderia encontra-la novamente?

Sim!

Porém eu continuaria sendo o que sou e não o que ela deseja.

Essa é minha natureza.

"...Seu veneno me consome, me alimenta. Ele está por tudo que me compõe. Ah, doce veneno..."



(Tanimoto, Elam / Co-idealizadora Carol Denzeler Varrezam)

Sida.


Um papel.

Uma frase.

Um amigo.

Nenhuma expressão.

Uma outra vida nascia diante das palavras ali escritas.

Seu nome era Sida.

Teria sido algum erro na digitação?Não sei, tinha coisas mais interessantes a fazer na época do

que ficar vendo registro de nascimentos.

Os dias dela nunca mais foram os mesmos e não serão.

Desde o abrir das janelas nas manhas até as simples caminhadas diárias junto a seu amigo.

Tudo havia mais sentido.

Sida encontrou em seu amigo um motivo a mais para sorrir na vida, também para compartilhar

seus dias, suas lágrimas

e as músicas que amava de paixão ouvir seu amigo cantar sentados um do lado do outro,

defronte ao lago.

Ele a amava, amava cantar para Sida e ela amava ouvi-lo.

O nome dele? Não importa!Mas ele não tinha nada haver por ela estar assim.

Os dias vão passando depressa para ela.

Ela apesar de tudo estava diferente.

A cada minuto ela se tornava alguém sofrida com um sorriso simpático no rosto e um fiel amigo

ao lado.

Ela irá morrer.

Será visitada pela morte e terá seu nome gravado no livro das lembranças.

Ela era linda, tinha razão do rapaz ama-la.

Sida.
Delicada, meiga e inteligente, ou nem tanto!

Pele branca e lisa, mãos finas e unhas graciosamente pintadas de rosa claro.

Olhos castanhos, cabelos na altura do ombro.

Nariz delicadamente rebitado e lábios finos, sua pinta ao lado da boca era seu charme.

Sua vóz era deliciosa de se ouvir, seu cheiro ainda me deixa saudades.

Amava calça Jeans e blusinhas simples.

Era poetisa nos momentos a sós em seu quarto.

Seu passatempo favorito era sentar na beira do lago com seu amigo e ouvi-lo cantar.

23 anos.

Seu corpo já estava frágil, algo o possuía cada dia mais, pouco a pouco.

Deitada sobre uma cama a mercê de sua própria sorte.

A contagem regressiva já começara.

Os olhares que se cruzavam entre ela e seu amigo já não era mais o mesmo

havia uma intensidade nele.

Todos os dias ele ia cantar para ela que permanecia em sua cama, frágil e esquelética.

Sua vóz me cortava ao meio, já não havia a doçura de antes.

Havia dificuldades em respirar, seu coração batia freneticamente como se quisesse a todo custo

fazer com que continuasse viva.

A ultima tarde de Outono.

Dois pedidos.

Um lago.

Dois corações.

Ele a carregou no colo até a beira do lago. Seu primeiro pedido fora atendido.

Quando cheguei naquela tarde o sol já se punha.

Sobre o gramado as folhas secas caiam de seus galhos e começavam a cobrir o solo como um

tapete marrom.

Soprei os lindos cabelos da menina frágil que já não sorria.

Sua cabeça estava encostada no ombro do sempre e fiel amigo.

Segundo pedido: Cante?

Eu apenas observei.

Ouvi o cantarolar do garoto.

Eu vi as lágrimas de Sida. Mãos juntas.

"...Como a lua precisa da noite
Pra mostrar essa luz tão divina
Como nós precisamos da vida
Eu te preciso
Bem mais..."

Foi quando ao meu lado surge meu conhecido.

A morte em pessoa.

- Olá, você por aqui?!

- Imagino para que tenha vindo!

- Pois é meu rapaz, ela me espera.

- Não quer dar outra chance a ela?

- Meu caro, viver já é uma ótima oportunidade, todos já tiveram suas chances.
Seus erros têm consequência, os prazeres também tem seus riscos, ela negligenciou, ela errou!

- Entendo.

- Se serve de consolo meu querido, ela acabou de dizer que já está pronta, que me aceita.
Ela disse que está feliz.

- Não creio que seja por você, e sim pelo amigo dela.

- Que seja, a felicidade é o que conta, se ela não soube percebe-la antes, agora ela sente!
Chegou a hora, vou busca-la, um momento!

Passados alguns segundos a morte volta.

A nossa frente o rapaz chorando com Sida em seus braços e a lua a iluminar os dois.

Perguntei:

- Posso ver o registro dela?

- Claro!

- Espere, você escreveu o nome dela errado! O nome dela não é com "C" e sim com "S"!

- Opa, vai dizer que não sei escrever agora?

- Mas o nome dela é Sida!

- Não, não, a DOENÇA que matou ela foi SIDA! O nome dela é Cida! É como eu disse: os prazeres tembém tem seus riscos.
Ah esses humanos...

TOLOS!

A morte partiu.

Eu não tive reação.





Um pequeno Papo.


A morte estava sentada em seu banco de madeira, como de costume.

Em suas mão ela segurava um livro.

Eu nunca tive coragem de me sentar ao seu lado.

Curiosidade? Sim, havia muita!

Eu estava entediado, não havia nada de interessante, ninguém me notava.

Criei coragem.

Fui conversar.

Sentei ao seu lado.

Ela tinha a face de todos que já se foram,

mudava constantemente.

Era desagradável em certo ponto e determinadas horas.

Sua vestimenta era toda preta e cumprida.

Como deveria chama-la?

A morte não tem sexo.

Era simplesmente Morte!

Perguntei:

- Nome triste o seu, não?
Ele respondeu:

- Triste, porque?

- Nunca conheci alguém que gostasse de ti.

- É porque todos já se foram, eu sou o ultimo nome a ser chamado em suas vidas.

- Mas porque?

- Ora, nunca ouviu falar que o melhor vem por ultimo?
Por um acaso já ouviu alguém reclamar de mim?

E a morte deu um leve riso.

Não entendi e resolvi perguntar:

- Por que esta rindo?

- Você não tem senso de humor? Era uma piada!

- Ah ta.

- Como a morte, digo, você pode ter senso de humor?
O que há de engraçado na morte?

- Na verdade nada, porém se eu for me lamentar ou ficar triste por cada morte que houver eu não terei saco para trabalhar nisso todo dia, toda hora.

- E esse livro em suas mãos?

- Curioso você né? Curiosidade matou um gato sabia?

- Vai me dizer ou não?

- É o livro de registros. Cada um dos mortos tem seus nomes gravados aqui.
Ops, tenho que buscar mais um. Um momento só!

Esperei e em alguns segundos a morte estava de volta com um leve sorriso no rosto.

Perguntei:

-Por que está rindo?

- Quando cheguei la só conseguia ouvir: Morte me leva, me leva, eu não quero mais viver!

- E você acha isso legal?

- Ora, imagine você sendo chamado euforicamente, é como ser um astro!

- Você é cruel!

- Eu? Você que é todo sensível! Seu fresco!

- Isso sim espero que seja uma piada!

- Rs, você é engraçado!

- Enquanto eu torço pra que vivam e tenham as mais lindas e curiosas histórias, você os mata!
Assim como poderei continuar a narrar suas histórias?

- Opa! Calma ai, falsa acusação é crime!

- Você entende de crime também?

- Hei, não fuja do assunto! Eu não os mato, eles fazem isso por mim!
Por um acaso você já me viu com foice na mão cortando suas cabeças?

- Não

-Então!

- Mas todos tem uma imagem sua com uma foice, deve haver uma explicação pra isso!

- Sim. Poucos me aceitam como deveria, por minha essência. Eu sou como você, natural.
Elas não aceitam isso. Os humanos não aceitam seus próprios erros, mas sabem que erram e muito, porém são muito orgulhosos. é mais fácil culpar algo que não se vê, não se sente, não se tem explicação doque admitir seus erros.

TOLOS!

E então surge mais um riso abafado e continua:

- Veja só, tudo é culpa de Deus. Se há fome é culpa de Deus. Se há violência, é culpa dele também, tudo que ha em vida a culpa é dele.
Mas eles não vêem que foi ele que os criou, me criou, criou você. Eles adoram culpar os outros, sobre tudo o que não há explicação.
Tudo que ha depois da vida a culpa é minha.
Se alguém morre por tiro ou facada a culpa é minha?!
Eu faço meu trabalho, conduzo até seus lugares e anoto seus nomes e histórias.
Não fui criado para ser vilão e tirar das pessoas quem os amam, e sim para fazer com que continuem vivos, na história, na memória...

TOLOS!

Surpreso com a seriedade e o tom irônico dele eu concordei.

E então ela me perguntou:

- Por que está sentado aqui a essas horas? Você não faz nada além de ficar perambulando por ai? Não faz nada da vida?

-Não. Eu só observo as pessoas enquanto você ainda não os busca.

- É por isso que vive entediado! Pelo menos vejo que aprendeu que eu só busco e não os mato.

- Pois é, me convenceu.

- Bom meu caro, se você não tem o que fazer é problema seu, tem uma guerra estourando em Israel ha muito tempo e tenho trabalho a fazer.
Agente se vê por ai e quem sabe compartilhamos experiências, que tal?

- Ta legal

A morte se levanta tendo o livro em suas mãos e começa a andar.
Por fim disse:

- Ah esses humanos...

Eu completei a frase baixinho:

- ...TOLOS!

A morte sumira, mas deixou ecoando em mim seu assobio.




(TANIMOTO, Elam)

Dois igual a Um!


Olhares se cruzam.

A necessidade de uma companhia é inevitável!

O primeiro abraço é o mais memorável.

A primeira refeição juntos é a mais saborosa,

mesmo que quase nada.

A companhia um do outro é algo lindo de se ver em um cenário

de cortar o coração.

Seus dias se resumem a trabalhar juntos.

Eles dependem da bondade de poucos.

Sorte, uma palavra rara.

Lealdade é a palavra constante!

Nas noites frias o calor do corpo é o que os mantém confortáveis,

seus corações chegam a bater em um único ritmo,

transformando dois em um.

Suas noites juntos são as mais calorosas.

Fazem das calçadas seu mais luxuoso lar.

Ele desabafa. O outro escuta.

Ele chora. O outro sente.

Ele pede. Os dois repartem.

Ele já teve uma família. O outro também.

Um respeita as diferenças do outro.

Já não há mais ninguém, tudo que restou foi um ao outro.

Quem dera estivesse falando de homem e mulher, assim, seria uma bela historia.

Mas não é!

Isto vai além de um amor entre dois corpos,

isso chama-se amor incondicional!

Olhos tristes a olhar-te por baixo,

mas ninguém os vê.

Odor fétido e sujeira são as únicas coisas que todos sentem,

sentem através de mim.

Eu poderia me sentir incomodado e certas vezes me sinto,

mas não tenho nada a fazer, apenas aceitar e deixarem em meu conforto.

Perante vocês os dois são tão invisíveis quanto a mim.

Eles vivem cada segundo desejando o fim dessa agonia.

O difícil é saber diferenciar em minha narração quando me refiro ao Cão

ou ao Homem.

Porém há algo de que eles precisam em comum:

VOCÊ.



(TANIMOTO, Elam)

Uma platéia, um maestro, duas sinfonias. Hiroshima e Nagazaki


Eu me lembro como se fosse ontem.

O segundo Espetáculo mais triste, a segunda Sinfonia mais cruel já composta pela Orquestra Humana.

O espetáculo começara.

A platéia insultou o Maestro.

Não foi de bom gosto!


Platéia : Japão.

Japão.

Um país onde as pessoas chamam de olhos o meio-fio que carregam em suas faces.

Povo educado, sem muita expressão.

Seus labios finos exibem um sorriso quase sem expressão alguma.

Possuem uma inteligência de dar inveja.

Suas riquezas vão alem do material, sua cultura é o maior tesouro.

Uma terra onde sou respeitado, mesmo não me compreendendo.

Dentre seus defeitos como todos os humanos possuem, um deles se destacou no ocorrido,

eles gostam de uma boa briga.

Isso foi Fatal.

Esse foi o insulto.


O Maestro:

Harry S. Truman.

Governante até então da maior potência mundial,

dono da maior orquestra do mundo!


Eu estava na terra do sol nascente, mas naquela manha de 6 de Agosto
de 1945 o sol nasceu. Não para todos!


Palco: Hiroshima.

O Maestro se posiciona e prepara seus músicos.

O espetáculo começa. A música se chama: Little Boy.

#DO.
A tensão já estava em mim e todos sentiam, mas já era tarde.

#RÉ.
De olhos no céu viram o pequeno garoto cair.
Tudo ficou em câmera lenta.
O pequeno garoto "brilhou".

#MI.
O sol já não brilhava para eles.
Fora totalmente escondido pelas cortinas de nuvens e fumaça.

#FÁ.
Silêncio, medo, pavor, tristeza.
Kamisama piscou no momento errado.


9 de Agosto de 1945, o palco era Nagazaki.

Segunda música: Fat man


#SOL.
Foi a primeira vez que os vi de olhos realmente abertos.
Isso não foi uma piada!
O som da primeira musica ainda ecoava em seus ouvidos,
ecoava em mim.

#LA.
Os olhos arregalados viram cair o Homem gordo.
Não adiantava correr, seus pés não saiam do chão.
Não adiantavam gritar, suas vozes não tinha som.

#SI.
O homem gordo brilhou
e a música foi alta!
Há milhares de quilómetros era audível.
Sua grandiosidade paralisou o mundo.

#DO.
....Foi a nota Final!


É triste estar no lugar e não poder abraçar, beijar, dar um ar de conforto a ninguém

principalmente nessas horas em que nada mais lhes fazem sentido.

Eu me sentia sujo, contaminado. Seria melhor se não existisse.

Mas eu existia, eu existo.

Cada sopro meu era uma ameaça a muitos.


O espetáculo termina, o maestro sai satisfeito,

as cortinas se fecham.

Não houve aplausos!

Anos após anos na terra do sol nascente, o sol não nasceu mais.

Seu brilho deu lugar ao Cinza das nuvens e pó.

Não havia som, nem cor, nem movimento ou cheiro.

Não havia ninguém!

Só me restou observar tudo que restou:

O NADA!

Foi tudo que Restou!



(TANIMOTO, Elam)

Aquela mulher. Luiza


Uma longa passarela movimentada frente ao mar.

Eu estava la, assim como estou em todos os lugares.

Então ouvi:

- Qual seu nome gracinha?

- Meu nome? Luíza!

Luíza.

Eis a tradução do chamado pecado.

O que Luíza era?

Vou lhe dizer!

Cabelos castanhos escuros caídos pelos ombros,

uma boca lindamente desenhada, olhos verdes envolventes.

Sua pele bronzeada reflete a luz do sol, faz brilhar cada olhar que te acompanha!

Copacabana.

Ah sim, como ela é linda.

A Luíza claro!

Cada passo seu é acompanhado por todos presentes.

Sua piscadinha faz surgir enormes sorrisos de homens e garotos.

Seu corpo traz as curvas mais desejadas e escultural.

Lentes de câmeras vão à sua procura.

Ah Luíza!

Seu perfume aguçavam os/meus instintos,

Me fazia sacudir, sacudir o mar.

A cada segundo, junto ao mar compúnhamos a sinfonia da natureza,

para-lhe presentear e tornar perfeita inclusive a paisagem que o cerca!

Queria ter um coração nessa hora para poder sentir as batidas e a sensação de desejar fortemente uma mulher!

Fim de tarde se aproxima e Luíza volta para sua casa.

A noite cai.

Ela coloca seu mais lindo vestido e um salto alto, sua maquiagem já não é a mesma,

ela quer/precisa atrair olhares nas noites cariocas, então

caminhando pelos suburbios ela segue.

Me pergunto: cadê aquele brilho encantador?

O sol se fora e o brilho de Luíza também.

Acompanhando-a lado a lado e jogando seu longos cabelo ao vento, faz-se ouvir em sua direção:

- Qual seu nome gracinha?

- Meu nome? Luíza.

- Quanto custa seu serviço?


(TANIMOTO, Elam)

Ao seu lado, sem você saber...



Minha rotina é sempre a mesma,

sempre ao seu lado sem você saber.

Me cansei disso!

Por isso quero brincar com você.

Quero que descubra quem/o que sou eu.

Já brincou de adivinhação?

Espero que goste e que seja esperto.

Se descobrir nunca mais vai andar sem me notar, nunca mais vai me ver com os mesmos olhos!

-: Eu sou algo que se você lesse com atenção,saberia quem sou,

ou melhor, o quê sou!

Sou frio e quente,

Sou seu alívio no calor, porém, cortante no frio.

Você já me chamou pelo menos uma vez na vida.

Não tenho rosto, pernas, braços, mãos.

Mesmo assim eu te abraço,

eu abraço o mundo.

Eu levo comigo seu cheiro por onde passa.

Estou nos versos dos renomados poetas,

estou na destruição da sua vida.

Eu vivencio os milagres mais lindos e as maiores tristezas.

Já matei muitos, não foi por querer.

A culpa foi SUA!

Eu, juntamente com "outros" formo um conjunto que compõe sua paisagem.

Vocês perderam meu/nosso controle.

Mas eu sou bom, acredite, me criaram com esse propósito, me criaram perfeito!

Quer saber quem sou?

Quer me sentir?

Abra sua porta,

feche seus olhos, isso basta!

Se com tudo isso você ainda não adivinhar, tudo bem, minha rotina vai continuar sempre a

mesmo, eu querendo ou não: Ao seu lado sem você saber!

Não fui criado ou Nasci para você me entender!


(TANIMOTO, Elam)

Neve Negra. Manhã de 1943


Neve Negra.

Era o que eu carregava em uma certa manhã de 1943

Alemanha

Terra dos seres de olhos cinzentos e frios,

dos fanáticos por sua nação e suas [in]perfeição.

Seus corações era revestidos por um manto vermelho e ao meio branco.

No centro, uma Suástica.

Saindo pesadamente de suas bocas fizeram ecoar em mim a palavra Führer diversas vezes.

Führer.

Ah, como aquela face me desagradava!

Por fora notável homem com seus ideais,

por dentro um animal voraz e sujo.

Em seu peito não havia batidas de um coração humano e sim de um Schwein.

Mas ainda assim ele vivia.

Foi o único Schwein que já existiu que tivesse o poder das palavras sobre a nação dos olhos cinzentos.

Havia em sua frente um corredor de Jude

Jude.

Seres de olhos escuros e esbugalhados.

Não havia expressao.

Estavam todos Nus.

Sua pele era suja e oleosa.

Eu beijei cada lábio, um por um,

eram frios e cortantes; trêmulos.

Abracei cada um dos seres ali presentes, em especial os seres pequeninos de cabeças raspadas.

Eles chorava e chamavam por seus pais, irmãos...

Eles estavam lá?

Não, não estavam, caso contrario eu teria visto!

Lembro-me de ter secado com minhas mãos cada gota de lágrima que escorria dos olhos tristonhos desses notáveis anjos.

Minha presença assustava a todos.

Meu corpo era frio, a eles era congelante.

Mas essa era a MINHA forma de AMAR.

Estavam todos entregues a solidão, ao vazio.

Eu os vi caminhando em direção a uma sala onde os homens de sobretudo pardo diziam ser a "sala do banho".

Era apertado, não havia espaço para mim, então eu sai.

Foi um banho demorado e sem volta...

Esperando lá fora comecei a sentir a Nuvem Negra.

Céu nublado,

risos dos sobretudo pardos.

Eu não entendia nada.

Foi quando prestei atenção na Neve Negra que eu carregava em meus braços.

Eu carregava os donos dos olhos escuros e esbugalhados; os seres pequeninos; os anjos.

Não haviam mais choros nem chamados.

Apenas Eu.

Apenas Eu e a Neve Negra/Eles.

Eu chorei.

Eu prometi!

Quando o animal/Führer deixasse de respirar eu sopraria pessoalmente sua alma pro inferno!


Berlim, 30 de Abril de 1945.

Eu Cumpri!


(TANIMOTO,Elam)

Eu te sinto. Você me sente mas não vê.


Eu vejo você, desconhecida. Mas você não!

loira, lápis contornando e destacando seus olhos curiosos e penetrantes a olhar para a paisagem que te cerca.

Eu sinto contornar seu corpo, sua pele branca que majestosamente parece nunca ter sido tocada.

Você me sente a toda hora, vez ou outra até me chama,

Você sorri na minha presença.

As vezes você abre seus braços como se me quisesse inteiramente pra você,mas acabo escapando por entre seus dedos. Uma pena!

Seu sorriso me acalma,

faz de minhas tempestades um movimento sereno.

Ah, seu perfume!

Como ele é bom e viciante.

Gosto de dividir esse prazer fazendo com que todos também sintam sua essência através de mim.

Você sabe quem/como sou,

você sobre mim/eu estou nas mais belas e tristes poesias,

não sabe de onde eu venho,

não me entende.

A cada momento te conheço e desconheço.

Muito prazer minha Querida Desconhecida!


(TANIMOTO,Elam)

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