Um pequeno Papo.


A morte estava sentada em seu banco de madeira, como de costume.

Em suas mão ela segurava um livro.

Eu nunca tive coragem de me sentar ao seu lado.

Curiosidade? Sim, havia muita!

Eu estava entediado, não havia nada de interessante, ninguém me notava.

Criei coragem.

Fui conversar.

Sentei ao seu lado.

Ela tinha a face de todos que já se foram,

mudava constantemente.

Era desagradável em certo ponto e determinadas horas.

Sua vestimenta era toda preta e cumprida.

Como deveria chama-la?

A morte não tem sexo.

Era simplesmente Morte!

Perguntei:

- Nome triste o seu, não?
Ele respondeu:

- Triste, porque?

- Nunca conheci alguém que gostasse de ti.

- É porque todos já se foram, eu sou o ultimo nome a ser chamado em suas vidas.

- Mas porque?

- Ora, nunca ouviu falar que o melhor vem por ultimo?
Por um acaso já ouviu alguém reclamar de mim?

E a morte deu um leve riso.

Não entendi e resolvi perguntar:

- Por que esta rindo?

- Você não tem senso de humor? Era uma piada!

- Ah ta.

- Como a morte, digo, você pode ter senso de humor?
O que há de engraçado na morte?

- Na verdade nada, porém se eu for me lamentar ou ficar triste por cada morte que houver eu não terei saco para trabalhar nisso todo dia, toda hora.

- E esse livro em suas mãos?

- Curioso você né? Curiosidade matou um gato sabia?

- Vai me dizer ou não?

- É o livro de registros. Cada um dos mortos tem seus nomes gravados aqui.
Ops, tenho que buscar mais um. Um momento só!

Esperei e em alguns segundos a morte estava de volta com um leve sorriso no rosto.

Perguntei:

-Por que está rindo?

- Quando cheguei la só conseguia ouvir: Morte me leva, me leva, eu não quero mais viver!

- E você acha isso legal?

- Ora, imagine você sendo chamado euforicamente, é como ser um astro!

- Você é cruel!

- Eu? Você que é todo sensível! Seu fresco!

- Isso sim espero que seja uma piada!

- Rs, você é engraçado!

- Enquanto eu torço pra que vivam e tenham as mais lindas e curiosas histórias, você os mata!
Assim como poderei continuar a narrar suas histórias?

- Opa! Calma ai, falsa acusação é crime!

- Você entende de crime também?

- Hei, não fuja do assunto! Eu não os mato, eles fazem isso por mim!
Por um acaso você já me viu com foice na mão cortando suas cabeças?

- Não

-Então!

- Mas todos tem uma imagem sua com uma foice, deve haver uma explicação pra isso!

- Sim. Poucos me aceitam como deveria, por minha essência. Eu sou como você, natural.
Elas não aceitam isso. Os humanos não aceitam seus próprios erros, mas sabem que erram e muito, porém são muito orgulhosos. é mais fácil culpar algo que não se vê, não se sente, não se tem explicação doque admitir seus erros.

TOLOS!

E então surge mais um riso abafado e continua:

- Veja só, tudo é culpa de Deus. Se há fome é culpa de Deus. Se há violência, é culpa dele também, tudo que ha em vida a culpa é dele.
Mas eles não vêem que foi ele que os criou, me criou, criou você. Eles adoram culpar os outros, sobre tudo o que não há explicação.
Tudo que ha depois da vida a culpa é minha.
Se alguém morre por tiro ou facada a culpa é minha?!
Eu faço meu trabalho, conduzo até seus lugares e anoto seus nomes e histórias.
Não fui criado para ser vilão e tirar das pessoas quem os amam, e sim para fazer com que continuem vivos, na história, na memória...

TOLOS!

Surpreso com a seriedade e o tom irônico dele eu concordei.

E então ela me perguntou:

- Por que está sentado aqui a essas horas? Você não faz nada além de ficar perambulando por ai? Não faz nada da vida?

-Não. Eu só observo as pessoas enquanto você ainda não os busca.

- É por isso que vive entediado! Pelo menos vejo que aprendeu que eu só busco e não os mato.

- Pois é, me convenceu.

- Bom meu caro, se você não tem o que fazer é problema seu, tem uma guerra estourando em Israel ha muito tempo e tenho trabalho a fazer.
Agente se vê por ai e quem sabe compartilhamos experiências, que tal?

- Ta legal

A morte se levanta tendo o livro em suas mãos e começa a andar.
Por fim disse:

- Ah esses humanos...

Eu completei a frase baixinho:

- ...TOLOS!

A morte sumira, mas deixou ecoando em mim seu assobio.




(TANIMOTO, Elam)

10 comentários:

Adorei, lembrei do livro "A menina que roubava livros" *-*

 

adorei, achei tbm muito interessante essa perspectiva da morte, admito q nunca tinha pensado nela dessa maneira!!

 

É a segunda vez que leio sobre a Morte e simpatizo com ela. A primeira, claro, foi em " A menina...". Até roubei um trechinho pra por no perfil do meu blog!

Gostei do seu, vou dar mais uma olhadinha. Passa pelo meu tb, blz?
Bjk

 

Olá!

Desculpe a demora para passar por aqui...
Adorei o blog, muito bom mesmo, sempre que puder vou vir te fazer uma visitinha.
Obrigada por sua visita ao meu e pelo comentário.

Bjuu grande pra ti

 

mt bom mesmo!

 

é sempre BOM saber sobre as versões da morte.. mas a sua superou .. nunca imaginei saber o LADO dela (morte), culpando à ela, a DEUS, sabendo que tudo o que nos acontece é consequência do que fazemos! Muito BOOm, ta de parabéns! ass: M.

 

Realmente incrível....
muito bom mesmo '

 

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