Mendigo de vida. O telefone e uma espera


Eu esperava tanto quanto ele que o telefone tocasse.

É uma espera pelo qual você nunca passará, ou sim, terá esse azar.

Imagine um fumante compulsivo que está a um dia sem fumar.

Um dia é o bastante para que entre num estado de desespero e agonia.

Era o clima que pairava no ambiente.

08:45 am.
Telefone, toca, toca, toca, toca... TOCA!
Nada!

Suas unhas eram curtas de tanto roer de ansiedade.

Seus olhos demoravam a piscar.

Da janela ele observava um por um dos transeuntes que caminhavam sem nenhuma

preocupação comparada a dele.

Era como se ele mendigasse a cada um que ele visse. Mendigando algo que não se vê por ai todo

dia no onibus, metro, ou ruas e rodoviárias.

A cada minuto ele virava subitamente para o telefone.

11:27 am.

Telefone, toca, toca, toca, toca... TOCA!

Nada!

No momento até então a imagem do Sagrado Coração de Cristo era sua única salvação.

Parecia que Cristo segurava algo que lhe desejava muito, mas não.

Não?

15:14 pm.

Telefone, toca, toca, toca, toca... TOCA!

Nada!

Em seu peito havia um enorme vazio, vital. As batidas de seu peito era como se fosse artificial.

Talvez fosse causado pela mulher que perderá há alguns anos.

Sim , este vazio era visível nos portas retratos.

Nas fotos havia ele, sua mulher e sua linda filha.

Onde estava sua filha?

00:43 am.

Telefone, toca, toca, toca, toca... TOCA! E mais uma vez nada!

Meus sopros que entravam pelo vão da porta e pela janela atingia-o como um murro.

Era como se fosse o ultimo a cada vez.

Esse murro doía, não era uma dor física, era uma dor espiritual.

Eu espanquei ele.

Ao mesmo tempo que minha intenção era fazê-lo sorrir, eu fazia o chorar.

Ao mesmo tempo que o abraçava, era como se ele ficasse mais distante, um passo de cada vez.

Nunca pensei tanto na importância do tempo nesse dia, talvez tivesse ou haverá outra ocasião

que me fará perceber o quanto cada minuto é precioso para muitos, mas que só alguns

conseguem enxergar.

Ele chegava delirar com números, ponteiros e toques de telefone.

Era atormentado a cada segundo que o ponteiro percorria, ou melhor dizer, corria.

Eu percebi que a situação não se tratava de sua filha.

03:13 am.

O telefone toca finalmente.

Os olhos que não pregavam a dias se volta para o aparelho.

Ele corre como que num impulso natural pela curiosidade da surpresa que lhe aguarda.

Quando finalmente ele atendeu disse:

- Graças a Deus...

A linha havia ficado muda.

Ele desabou.

O telefonema mais aguardado de sua vida, o toque que lhe soara como uma sinfonia, ali acabou.

Tantos dias e horas a espera, foi-se com o vento.

Foi quando ouviu-se passos apressados e vozes vindas do corredor e lhe abrem a porta.

Era como um anjo que viera salvar sua vida, literalmente.

- Encontramos um doador, um coração compatível, vamos te preparar para cirurgia!

Disse o Doutor junto aos enfermeiros.

"Cerca de 50mil pessoas por ano no Brasil esperam por algum transplante, que nem sempre é garantido. Esses são realmente os mendigos de vida! Essa é uma realidade que não vemos mas existe. Não espere morrer para fazer a diferença, nem espere estar à beira da morte para dar valor a vida e ao tempo que o compõe!"


(Tanimoto, Elam)

Uma mulher. Um convite. Meu doce veneno!


Primeiro dia de Outono.

Um fim de tarde.

Uma estação tão romântica quanto a primavera.

Naquela tarde não foi o esplendor do por do sol que me chamou atenção,

nem tampouco uma historia de um ser emocionante e sim

aquela mulher que caminhava em direção a sua casa.

Uma mulher que aparentemente era como muitas.

Aparentemente!

Raramente um ser me chamava tanto atenção quanto ela, naquele final de tarde.

Assim como o sol, a lua e as estrelas tem seu brilho próprio, ela também o possuía.

Seu brilho vinha acompanhado de um lindo sorriso, meigo e discreto, porém contagiante!

Ela era dona de uma beleza exótica.

Intrigante!

Seus olhos castanhos eram profundos e mesmo tempo sereno.


A noite anuncia sua chegada.

O sol se põe e da espaço ao brilho das estrelas e

do luar.

O brilho da lua naquela noite era tão intenso que eu me lembro até hoje, era como se ela

iluminasse o mundo todo, fazendo-me pensar que a invenção da luz elétrica tinha sido inútil.

Tarde da noite, acompanhando de longe a linda mulher, as luzes se apagam e recebo um convite:

Uma janela aberta.

Hesito em entrar, mas a tentação era tamanha.

Tentei me conter, foi inútil.

Passado algumas horas entrei por entre a janela, sacudindo os galhos da árvore fazendo as folhas

cantarem em minha presença, como se fosse uma noite quente de típico de verão.

Ah, la estava ela.

Deitada em sua cama, apenas coberta por um lençol.

A cada aproximação minha as cortinas dançavam no ar.

Tocando-a levemente senti a delicadeza de seu corpo.

Sua pele era clara e lisa, uma delicia.

Seu rosto, ainda que dormindo profundamente carregava um leve sorriso.

Estaria ela tendo um lindo sonho?

Não sei, porém era como se eu estivesse sonhando!

Ao lado da cama sobre uma mesinha, seu óculos de detalhes vermelhos

Cabelos esparramados sobre o travesseiro, não era tão longos, nem tão curtos.

Não havia perfume químico, apenas a doçura de seu cheiro natural.

Ah meu Deus, como era bom!

Entrei num estado de frenesi, passeava sobre seu corpo, desde os pés,coxas, acariciava de leve

suas costas e terminando em sua nuca.

Era como se eu tivesse sido consumido por um veneno doce, gostoso. Era como se eu tivesse me

entregado a ele.

Um veneno não é aquilo que se espera, é o que te consome sem que você perceba ou espere.

Era excitante, viciante.

Seu corpo possuía curvas delicadas e majestosamente puras.

Senti sua respiração como quem sente um coração batendo em seu peito.

Em um sopro forte ela abriu os olhos meio assustada, então me afastei e passei a observar da

janela.

Sempre balançando os galhos e mexendo as cortinas.

Ela me procurava, ou ao menos tentava!

Ela não sabe o que eu sou.

Ela não me entende ou compreende. Alias ninguém!

Me agoniava pensar nisso!

Oh, meu Deus, porque não me criastes homem?

Porque?

Desejei que aquela noite jamais tivesse fim.

Que ela jamais perdesse esse encanto e que um dia eu pudesse encontra-la novamente.

Eu poderia encontra-la novamente?

Sim!

Porém eu continuaria sendo o que sou e não o que ela deseja.

Essa é minha natureza.

"...Seu veneno me consome, me alimenta. Ele está por tudo que me compõe. Ah, doce veneno..."



(Tanimoto, Elam / Co-idealizadora Carol Denzeler Varrezam)

Sida.


Um papel.

Uma frase.

Um amigo.

Nenhuma expressão.

Uma outra vida nascia diante das palavras ali escritas.

Seu nome era Sida.

Teria sido algum erro na digitação?Não sei, tinha coisas mais interessantes a fazer na época do

que ficar vendo registro de nascimentos.

Os dias dela nunca mais foram os mesmos e não serão.

Desde o abrir das janelas nas manhas até as simples caminhadas diárias junto a seu amigo.

Tudo havia mais sentido.

Sida encontrou em seu amigo um motivo a mais para sorrir na vida, também para compartilhar

seus dias, suas lágrimas

e as músicas que amava de paixão ouvir seu amigo cantar sentados um do lado do outro,

defronte ao lago.

Ele a amava, amava cantar para Sida e ela amava ouvi-lo.

O nome dele? Não importa!Mas ele não tinha nada haver por ela estar assim.

Os dias vão passando depressa para ela.

Ela apesar de tudo estava diferente.

A cada minuto ela se tornava alguém sofrida com um sorriso simpático no rosto e um fiel amigo

ao lado.

Ela irá morrer.

Será visitada pela morte e terá seu nome gravado no livro das lembranças.

Ela era linda, tinha razão do rapaz ama-la.

Sida.
Delicada, meiga e inteligente, ou nem tanto!

Pele branca e lisa, mãos finas e unhas graciosamente pintadas de rosa claro.

Olhos castanhos, cabelos na altura do ombro.

Nariz delicadamente rebitado e lábios finos, sua pinta ao lado da boca era seu charme.

Sua vóz era deliciosa de se ouvir, seu cheiro ainda me deixa saudades.

Amava calça Jeans e blusinhas simples.

Era poetisa nos momentos a sós em seu quarto.

Seu passatempo favorito era sentar na beira do lago com seu amigo e ouvi-lo cantar.

23 anos.

Seu corpo já estava frágil, algo o possuía cada dia mais, pouco a pouco.

Deitada sobre uma cama a mercê de sua própria sorte.

A contagem regressiva já começara.

Os olhares que se cruzavam entre ela e seu amigo já não era mais o mesmo

havia uma intensidade nele.

Todos os dias ele ia cantar para ela que permanecia em sua cama, frágil e esquelética.

Sua vóz me cortava ao meio, já não havia a doçura de antes.

Havia dificuldades em respirar, seu coração batia freneticamente como se quisesse a todo custo

fazer com que continuasse viva.

A ultima tarde de Outono.

Dois pedidos.

Um lago.

Dois corações.

Ele a carregou no colo até a beira do lago. Seu primeiro pedido fora atendido.

Quando cheguei naquela tarde o sol já se punha.

Sobre o gramado as folhas secas caiam de seus galhos e começavam a cobrir o solo como um

tapete marrom.

Soprei os lindos cabelos da menina frágil que já não sorria.

Sua cabeça estava encostada no ombro do sempre e fiel amigo.

Segundo pedido: Cante?

Eu apenas observei.

Ouvi o cantarolar do garoto.

Eu vi as lágrimas de Sida. Mãos juntas.

"...Como a lua precisa da noite
Pra mostrar essa luz tão divina
Como nós precisamos da vida
Eu te preciso
Bem mais..."

Foi quando ao meu lado surge meu conhecido.

A morte em pessoa.

- Olá, você por aqui?!

- Imagino para que tenha vindo!

- Pois é meu rapaz, ela me espera.

- Não quer dar outra chance a ela?

- Meu caro, viver já é uma ótima oportunidade, todos já tiveram suas chances.
Seus erros têm consequência, os prazeres também tem seus riscos, ela negligenciou, ela errou!

- Entendo.

- Se serve de consolo meu querido, ela acabou de dizer que já está pronta, que me aceita.
Ela disse que está feliz.

- Não creio que seja por você, e sim pelo amigo dela.

- Que seja, a felicidade é o que conta, se ela não soube percebe-la antes, agora ela sente!
Chegou a hora, vou busca-la, um momento!

Passados alguns segundos a morte volta.

A nossa frente o rapaz chorando com Sida em seus braços e a lua a iluminar os dois.

Perguntei:

- Posso ver o registro dela?

- Claro!

- Espere, você escreveu o nome dela errado! O nome dela não é com "C" e sim com "S"!

- Opa, vai dizer que não sei escrever agora?

- Mas o nome dela é Sida!

- Não, não, a DOENÇA que matou ela foi SIDA! O nome dela é Cida! É como eu disse: os prazeres tembém tem seus riscos.
Ah esses humanos...

TOLOS!

A morte partiu.

Eu não tive reação.





Um pequeno Papo.


A morte estava sentada em seu banco de madeira, como de costume.

Em suas mão ela segurava um livro.

Eu nunca tive coragem de me sentar ao seu lado.

Curiosidade? Sim, havia muita!

Eu estava entediado, não havia nada de interessante, ninguém me notava.

Criei coragem.

Fui conversar.

Sentei ao seu lado.

Ela tinha a face de todos que já se foram,

mudava constantemente.

Era desagradável em certo ponto e determinadas horas.

Sua vestimenta era toda preta e cumprida.

Como deveria chama-la?

A morte não tem sexo.

Era simplesmente Morte!

Perguntei:

- Nome triste o seu, não?
Ele respondeu:

- Triste, porque?

- Nunca conheci alguém que gostasse de ti.

- É porque todos já se foram, eu sou o ultimo nome a ser chamado em suas vidas.

- Mas porque?

- Ora, nunca ouviu falar que o melhor vem por ultimo?
Por um acaso já ouviu alguém reclamar de mim?

E a morte deu um leve riso.

Não entendi e resolvi perguntar:

- Por que esta rindo?

- Você não tem senso de humor? Era uma piada!

- Ah ta.

- Como a morte, digo, você pode ter senso de humor?
O que há de engraçado na morte?

- Na verdade nada, porém se eu for me lamentar ou ficar triste por cada morte que houver eu não terei saco para trabalhar nisso todo dia, toda hora.

- E esse livro em suas mãos?

- Curioso você né? Curiosidade matou um gato sabia?

- Vai me dizer ou não?

- É o livro de registros. Cada um dos mortos tem seus nomes gravados aqui.
Ops, tenho que buscar mais um. Um momento só!

Esperei e em alguns segundos a morte estava de volta com um leve sorriso no rosto.

Perguntei:

-Por que está rindo?

- Quando cheguei la só conseguia ouvir: Morte me leva, me leva, eu não quero mais viver!

- E você acha isso legal?

- Ora, imagine você sendo chamado euforicamente, é como ser um astro!

- Você é cruel!

- Eu? Você que é todo sensível! Seu fresco!

- Isso sim espero que seja uma piada!

- Rs, você é engraçado!

- Enquanto eu torço pra que vivam e tenham as mais lindas e curiosas histórias, você os mata!
Assim como poderei continuar a narrar suas histórias?

- Opa! Calma ai, falsa acusação é crime!

- Você entende de crime também?

- Hei, não fuja do assunto! Eu não os mato, eles fazem isso por mim!
Por um acaso você já me viu com foice na mão cortando suas cabeças?

- Não

-Então!

- Mas todos tem uma imagem sua com uma foice, deve haver uma explicação pra isso!

- Sim. Poucos me aceitam como deveria, por minha essência. Eu sou como você, natural.
Elas não aceitam isso. Os humanos não aceitam seus próprios erros, mas sabem que erram e muito, porém são muito orgulhosos. é mais fácil culpar algo que não se vê, não se sente, não se tem explicação doque admitir seus erros.

TOLOS!

E então surge mais um riso abafado e continua:

- Veja só, tudo é culpa de Deus. Se há fome é culpa de Deus. Se há violência, é culpa dele também, tudo que ha em vida a culpa é dele.
Mas eles não vêem que foi ele que os criou, me criou, criou você. Eles adoram culpar os outros, sobre tudo o que não há explicação.
Tudo que ha depois da vida a culpa é minha.
Se alguém morre por tiro ou facada a culpa é minha?!
Eu faço meu trabalho, conduzo até seus lugares e anoto seus nomes e histórias.
Não fui criado para ser vilão e tirar das pessoas quem os amam, e sim para fazer com que continuem vivos, na história, na memória...

TOLOS!

Surpreso com a seriedade e o tom irônico dele eu concordei.

E então ela me perguntou:

- Por que está sentado aqui a essas horas? Você não faz nada além de ficar perambulando por ai? Não faz nada da vida?

-Não. Eu só observo as pessoas enquanto você ainda não os busca.

- É por isso que vive entediado! Pelo menos vejo que aprendeu que eu só busco e não os mato.

- Pois é, me convenceu.

- Bom meu caro, se você não tem o que fazer é problema seu, tem uma guerra estourando em Israel ha muito tempo e tenho trabalho a fazer.
Agente se vê por ai e quem sabe compartilhamos experiências, que tal?

- Ta legal

A morte se levanta tendo o livro em suas mãos e começa a andar.
Por fim disse:

- Ah esses humanos...

Eu completei a frase baixinho:

- ...TOLOS!

A morte sumira, mas deixou ecoando em mim seu assobio.




(TANIMOTO, Elam)

Dois igual a Um!


Olhares se cruzam.

A necessidade de uma companhia é inevitável!

O primeiro abraço é o mais memorável.

A primeira refeição juntos é a mais saborosa,

mesmo que quase nada.

A companhia um do outro é algo lindo de se ver em um cenário

de cortar o coração.

Seus dias se resumem a trabalhar juntos.

Eles dependem da bondade de poucos.

Sorte, uma palavra rara.

Lealdade é a palavra constante!

Nas noites frias o calor do corpo é o que os mantém confortáveis,

seus corações chegam a bater em um único ritmo,

transformando dois em um.

Suas noites juntos são as mais calorosas.

Fazem das calçadas seu mais luxuoso lar.

Ele desabafa. O outro escuta.

Ele chora. O outro sente.

Ele pede. Os dois repartem.

Ele já teve uma família. O outro também.

Um respeita as diferenças do outro.

Já não há mais ninguém, tudo que restou foi um ao outro.

Quem dera estivesse falando de homem e mulher, assim, seria uma bela historia.

Mas não é!

Isto vai além de um amor entre dois corpos,

isso chama-se amor incondicional!

Olhos tristes a olhar-te por baixo,

mas ninguém os vê.

Odor fétido e sujeira são as únicas coisas que todos sentem,

sentem através de mim.

Eu poderia me sentir incomodado e certas vezes me sinto,

mas não tenho nada a fazer, apenas aceitar e deixarem em meu conforto.

Perante vocês os dois são tão invisíveis quanto a mim.

Eles vivem cada segundo desejando o fim dessa agonia.

O difícil é saber diferenciar em minha narração quando me refiro ao Cão

ou ao Homem.

Porém há algo de que eles precisam em comum:

VOCÊ.



(TANIMOTO, Elam)

Uma platéia, um maestro, duas sinfonias. Hiroshima e Nagazaki


Eu me lembro como se fosse ontem.

O segundo Espetáculo mais triste, a segunda Sinfonia mais cruel já composta pela Orquestra Humana.

O espetáculo começara.

A platéia insultou o Maestro.

Não foi de bom gosto!


Platéia : Japão.

Japão.

Um país onde as pessoas chamam de olhos o meio-fio que carregam em suas faces.

Povo educado, sem muita expressão.

Seus labios finos exibem um sorriso quase sem expressão alguma.

Possuem uma inteligência de dar inveja.

Suas riquezas vão alem do material, sua cultura é o maior tesouro.

Uma terra onde sou respeitado, mesmo não me compreendendo.

Dentre seus defeitos como todos os humanos possuem, um deles se destacou no ocorrido,

eles gostam de uma boa briga.

Isso foi Fatal.

Esse foi o insulto.


O Maestro:

Harry S. Truman.

Governante até então da maior potência mundial,

dono da maior orquestra do mundo!


Eu estava na terra do sol nascente, mas naquela manha de 6 de Agosto
de 1945 o sol nasceu. Não para todos!


Palco: Hiroshima.

O Maestro se posiciona e prepara seus músicos.

O espetáculo começa. A música se chama: Little Boy.

#DO.
A tensão já estava em mim e todos sentiam, mas já era tarde.

#RÉ.
De olhos no céu viram o pequeno garoto cair.
Tudo ficou em câmera lenta.
O pequeno garoto "brilhou".

#MI.
O sol já não brilhava para eles.
Fora totalmente escondido pelas cortinas de nuvens e fumaça.

#FÁ.
Silêncio, medo, pavor, tristeza.
Kamisama piscou no momento errado.


9 de Agosto de 1945, o palco era Nagazaki.

Segunda música: Fat man


#SOL.
Foi a primeira vez que os vi de olhos realmente abertos.
Isso não foi uma piada!
O som da primeira musica ainda ecoava em seus ouvidos,
ecoava em mim.

#LA.
Os olhos arregalados viram cair o Homem gordo.
Não adiantava correr, seus pés não saiam do chão.
Não adiantavam gritar, suas vozes não tinha som.

#SI.
O homem gordo brilhou
e a música foi alta!
Há milhares de quilómetros era audível.
Sua grandiosidade paralisou o mundo.

#DO.
....Foi a nota Final!


É triste estar no lugar e não poder abraçar, beijar, dar um ar de conforto a ninguém

principalmente nessas horas em que nada mais lhes fazem sentido.

Eu me sentia sujo, contaminado. Seria melhor se não existisse.

Mas eu existia, eu existo.

Cada sopro meu era uma ameaça a muitos.


O espetáculo termina, o maestro sai satisfeito,

as cortinas se fecham.

Não houve aplausos!

Anos após anos na terra do sol nascente, o sol não nasceu mais.

Seu brilho deu lugar ao Cinza das nuvens e pó.

Não havia som, nem cor, nem movimento ou cheiro.

Não havia ninguém!

Só me restou observar tudo que restou:

O NADA!

Foi tudo que Restou!



(TANIMOTO, Elam)

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