O lugar dos Sonhos.


Era uma manhã fresca.
O filho se aprontava para ir para escola, seu pai se aprontava para o trabalho na roça e a mãe terminava seu café feito no fogão de lenha.
O cheiro do café fresco invadia todo perímetro da casa, atraindo os para a pequena cozinha.
A casa era simples, nada de luxo, apenas o necessário.
Não havia vizinhos por perto.
Família de fala e género humilde, porem com a mesa sempre farta.
O menino com frequência dizia: “inda bem que não farta nada né mãe?!”.
Isso sempre soava como uma pequena piada e era motivo pra risos discretos.
O filho entrou em seu ônibus escolar e seguiu para seu destino.
A mãe tratou dos afazeres domésticos enquanto ouvia seu marido agradecer a Deus por mais um inicio de dia lindo e produtivo que estaria por começar.
Assim que abriu a porta, se esticou, abriu os braços e respirou bem fundo, inalando o perfume da natureza.
Recebeu o beijo matinal de sua mulher e se dirigiu ao pequeno trator.
O verde compunha um tapete magnífico pelo caminho.
O sol dava seu primeiro parecer quando o homem parava e vislumbrava como sempre o milagre da terra materializado numa vasta e generosa plantação de diversos tipos de legumes, frutas e verduras.
Ele agradecia fervorosamente a Deus enquanto colhia, regava, e as vezes ate petiscava algum fruto fresco.
Quando cansado sentava sobre uma cesta vazia, abria seu galão de água fresca se deliciava como se tomasse um delicioso vinho português de safra 1976.
Já no meio da tarde as nuvens deram descanso ao sol e fez-se chover delicadamente.
Era a natureza cuidando da natureza. Esse é o único e exclusivo dever a ser cumprido, seja eu o vento ou chuva, o calor do sol ou o gelo da neve.
Fim de tarde se anuncia e o homem volta a sua casa.
Pelo caminho amigos pescavam nos lagos em busca de um jantar mais caprichado.
Era uma calmaria morar lá. Problema era o que não se via.
A natureza fazia sua parte e o homem a dele.
Mesmo distante de casa já era possível sentir o cheiro de janta no ar, perfumando a atmosfera.
Arroz, feijão, legumes e verduras da própria colheita,carne de panela, pururuca, enfim, se eu fosse humano certamente estaria já com água na boca.
Mais uma fez a família ali se reunia, feliz, se deliciando e compartilhando os fatos do dia.
Foi quando aconteceu algo inesperado.
Tudo começou a tremer.
O chão se abriu e a mesa e tudo sobre ela foi engolida pela terra.
Todo colorido sumiu.
A terra com seu rosto fantasmagórico e horripilante ria da família ali amedrontada.
Todos caiam num buraco sem fim.
Foi quando o homem acordou.
Era tudo um sonho.
Andando pelo corredor em direção a cozinha ele ouvia sua mulher a queixar-se da falta de café. Enquanto o filho dormia sem preocupação nenhuma com a escola.
A mulher se despediu de seu marido como de costume com um beijo.
O marido suspirava de preocupação.
Ele pegava sua vaquinha, sua cabra e seu cavalo e seguia em busca de seu desejo.
A sua volta só o vermelho da terra predominava.
Era um deserto.
A terra era absurdamente seca. Não há como descrever.
Essa devia ser a textura da pele do diabo.
O verde não existia.
Ele rezava a Deus, rezava e rezava, mas seu pedido era realmente um milagre que tão cedo não iria se confirmar.
O menino não estudava, se quer sabia ler porque não havia escola por la.
A mãe e o pai não tinham motivos para sorrirem nas manhãs sentados à mesa como no sonho.
Na verdade ali “fartava” tudo!
Onde viviam, ou, melhor dizer sobreviviam, é um lugar distante, esquecido por Deus, São Pedro e tudo mais que fosse santo.
Lembrando de seu sonho escorriam lágrimas.
Era a única água a cair sobre a terra.
Era a única água que o solo do Sertão recebia.
O sertão é o lugar dos sonhos, onde o sonho é o lar mais feliz e digno de se viver.
É apenas lá onde encontravam a fartura, o verde, a água, a felicidade.
Sertão, ah sertão.
Oque fizeste para merecer isto?

1 comentários:

os seres humanos castigam a natureza e agora se revoltam por pagarem o preço... mais um problema da sociedade, só que nesse caso os ricos fazem, ganham e os pobres pagam (e sonham com uma vida melhor, apenas sonhos =S )... a natureza é limitada e está se vingando(?) pelo que já sofreu... o problema é acharem que a culpa é de Deus... "humanos tolos" rsrsrsrsrs

adoro seus textos... parabéns mais uma vez(vou começar a usar o Ctrl + C e Ctrl + V pra lhe dar os parabéns) kkkkkk

 

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