Sida.


Um papel.

Uma frase.

Um amigo.

Nenhuma expressão.

Uma outra vida nascia diante das palavras ali escritas.

Seu nome era Sida.

Teria sido algum erro na digitação?Não sei, tinha coisas mais interessantes a fazer na época do

que ficar vendo registro de nascimentos.

Os dias dela nunca mais foram os mesmos e não serão.

Desde o abrir das janelas nas manhas até as simples caminhadas diárias junto a seu amigo.

Tudo havia mais sentido.

Sida encontrou em seu amigo um motivo a mais para sorrir na vida, também para compartilhar

seus dias, suas lágrimas

e as músicas que amava de paixão ouvir seu amigo cantar sentados um do lado do outro,

defronte ao lago.

Ele a amava, amava cantar para Sida e ela amava ouvi-lo.

O nome dele? Não importa!Mas ele não tinha nada haver por ela estar assim.

Os dias vão passando depressa para ela.

Ela apesar de tudo estava diferente.

A cada minuto ela se tornava alguém sofrida com um sorriso simpático no rosto e um fiel amigo

ao lado.

Ela irá morrer.

Será visitada pela morte e terá seu nome gravado no livro das lembranças.

Ela era linda, tinha razão do rapaz ama-la.

Sida.
Delicada, meiga e inteligente, ou nem tanto!

Pele branca e lisa, mãos finas e unhas graciosamente pintadas de rosa claro.

Olhos castanhos, cabelos na altura do ombro.

Nariz delicadamente rebitado e lábios finos, sua pinta ao lado da boca era seu charme.

Sua vóz era deliciosa de se ouvir, seu cheiro ainda me deixa saudades.

Amava calça Jeans e blusinhas simples.

Era poetisa nos momentos a sós em seu quarto.

Seu passatempo favorito era sentar na beira do lago com seu amigo e ouvi-lo cantar.

23 anos.

Seu corpo já estava frágil, algo o possuía cada dia mais, pouco a pouco.

Deitada sobre uma cama a mercê de sua própria sorte.

A contagem regressiva já começara.

Os olhares que se cruzavam entre ela e seu amigo já não era mais o mesmo

havia uma intensidade nele.

Todos os dias ele ia cantar para ela que permanecia em sua cama, frágil e esquelética.

Sua vóz me cortava ao meio, já não havia a doçura de antes.

Havia dificuldades em respirar, seu coração batia freneticamente como se quisesse a todo custo

fazer com que continuasse viva.

A ultima tarde de Outono.

Dois pedidos.

Um lago.

Dois corações.

Ele a carregou no colo até a beira do lago. Seu primeiro pedido fora atendido.

Quando cheguei naquela tarde o sol já se punha.

Sobre o gramado as folhas secas caiam de seus galhos e começavam a cobrir o solo como um

tapete marrom.

Soprei os lindos cabelos da menina frágil que já não sorria.

Sua cabeça estava encostada no ombro do sempre e fiel amigo.

Segundo pedido: Cante?

Eu apenas observei.

Ouvi o cantarolar do garoto.

Eu vi as lágrimas de Sida. Mãos juntas.

"...Como a lua precisa da noite
Pra mostrar essa luz tão divina
Como nós precisamos da vida
Eu te preciso
Bem mais..."

Foi quando ao meu lado surge meu conhecido.

A morte em pessoa.

- Olá, você por aqui?!

- Imagino para que tenha vindo!

- Pois é meu rapaz, ela me espera.

- Não quer dar outra chance a ela?

- Meu caro, viver já é uma ótima oportunidade, todos já tiveram suas chances.
Seus erros têm consequência, os prazeres também tem seus riscos, ela negligenciou, ela errou!

- Entendo.

- Se serve de consolo meu querido, ela acabou de dizer que já está pronta, que me aceita.
Ela disse que está feliz.

- Não creio que seja por você, e sim pelo amigo dela.

- Que seja, a felicidade é o que conta, se ela não soube percebe-la antes, agora ela sente!
Chegou a hora, vou busca-la, um momento!

Passados alguns segundos a morte volta.

A nossa frente o rapaz chorando com Sida em seus braços e a lua a iluminar os dois.

Perguntei:

- Posso ver o registro dela?

- Claro!

- Espere, você escreveu o nome dela errado! O nome dela não é com "C" e sim com "S"!

- Opa, vai dizer que não sei escrever agora?

- Mas o nome dela é Sida!

- Não, não, a DOENÇA que matou ela foi SIDA! O nome dela é Cida! É como eu disse: os prazeres tembém tem seus riscos.
Ah esses humanos...

TOLOS!

A morte partiu.

Eu não tive reação.





5 comentários:

valeu a pena esperar um pouco pelo texto... muito bom... e novamente um assunto polêmico... e vc deixou claro que a AIDS mata, mas não impede a pessoa de ser feliz enquanto estiver viva. Mais um alerta para aqueles DESCUIDADOS... rsrsrs

Parabéns Elam... vc escreve muito bem (acho que já disse isso antes) rsrs

=D

 

daqueles textos que não se tem muito o que dizer.

como diz o poeta:
"eu vi a cara da morte e ela estava VIVA!"

gostei.

 

Olá!

Te indiquei o selinho Prêmio Blog Vip que está no meu blog.
Se quiser aceitá-lo coloque em seu blog e siga as regras.

Bjs e Boa Tarde! :D

 

UAU

muito bom o texto...não vou ficar aqui rasgando seda, mas vejo potencial.

se quiser retribuir

http://grudeichicletes.blogspot.com/

 

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